quinta-feira, 20 de março de 2008

RUA DOS CONDES [ V ]

Rua dos Condes - (2004) Foto JF São José (Cinema Odeon) in carmoetrindade.blogspot.com
Rua dos Condes - (2004) Fotógrafo não identificado (Cinema Odeon)
Rua dos Condes - (1990 - 1991) Foto Michell Waldmann (Cinema Odeon) in AFML
Rua dos Condes - (c. 1960) Foto Arnaldo Madureira (Cinema Odeon) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa


O CINEMA ODÉON que se situa na Rua dos Condes do número 2 a 20, eixo nobre da cidade junto à Avenida da Liberdade, em frente do lisboeta cinema Olympia, foi fruto de um projecto de 1923, pelo construtor Guilherme A. Soares.



Em 21 de Setembro de 1927 era inaugurada esta sala de cinema com a exibição cinematográfica de «A VIUVA ALEGRE» de Erich von Stroheim e durante largos anos, estabeleceu laços fortes com a sala do «TRIANON PALACE», sua contemporânea de 1930, partilhando ambos a mesma cópia do filme.
No ano de 1931 é modernizado com expressivas galerias metálicas, na fachada que dá para a Rua dos Condes, com os seus rendilhados de vidros coloridos, que quase apagam o desenho ao estilo clássico do edifício. Estilo esse que é ainda visível no piso superior e, principalmente, na esquina com a Rua das Portas de Santo Antão.
Destacamos ainda, o janelão que ocupa dois andares, sobre o balcão semicircular, assente em métopas que enquadram o nome ODEON. O interior é notável pela sua grande cobertura em pau Brasil com a forma de quilha de navio, pelo seu palco de frontão "Art Deco", pelos sumptuosos e volumosos camarotes e pelo lustre central decorado com néon, e um pé direito invulgar são mais do que suficientes para a não aceitação da degradação desta casa, que aumenta dia a dia.


Deste cinema, recordo com alguma nostalgia os momentos que passei a assistir na década de 60 do século passado, (às quartas feiras) a bons espectáculos de variedades que se realizavam nas segundas matinées (18,30), onde actuavam artistas nacionais e estrangeiros. Os cenários eram amovíveis.
Recordo também de muitas vezes sair pela parte lateral deste cinema, que dá para Rua das Portas de Santo Antão com ligação pelo «Pátio do Trono» (de que já falei).



O cinema Odeon propriedade particular, teve o seu «período dourado» nos anos 40 e 50 do século XX, aguarda há muito tempo por um projecto de reanimação.
Notíciava o "Público" do dia 8 de Outubro de 2003 «que o Odeon fechado há seis anos, foi posto à venda pelos seus proprietários, por um preço que rendava os 2,3 milhões de Euros. Bem assim como leiloar virtualmente (697) cadeiras do cinema».
Recuperar o Odeon para possíveis exibições de cinema, encenação de peças de teatro ou récitas e seminários, era um projecto de um grupo de amigos, que passados estes anos todos ainda não viram grandes progressos.
O objectivo é "lutar para que o ODEON não morra como o ÉDEN ou o MONUMENTAL, nem entre em coma como o PARIS, nem sequer seja reciclado como o CONDES, ficando só a memória priveligiada das antigas gerações", afirmam os promotores da ideia.
Já no ano de 2004 era noticiado novamente sobre «o antigo cinema, que fechou há já vários anos, foi posto à venda em 2000 pela Sociedade Parisiana que é detentora do imóvel, mas desde então nenhuma entidade se mostrou com capacidade para o adquirir e recuperar o edifício, um exemplar da "art deco" construído no início do século XX».
Vários projectos foram apresentados a anteriores edilidades, desde a transformação do cinema num Hotel, até à criação de um pólo associado ao Teatro Politeama de Filipe Lá Féria. Mas nenhuma destas ideias mostrou ter pernas para andar.
A Câmara Municipal de Lisboa dizia preferir que ali se mantivesse uma atividade cultural, mas nem o projecto de Lá Féria, nem o do movimento "Novo Odeon" dispensavam que fosse a autarquia - ou alguma outra instituição com capacidade financeira -, a comprar o antigo cinema, uma hipótese que o município não coloca presentemente.


Este cinema actualmente encerrado, fez recentemente 80 anos, e para assinalar a data a Cinemateca Portuguesa exibiu o filme «A VIUVA ALEGRE», projectado na inauguração da sala, a 21 de Setembro de 1927. O filme mudo, de STROHEIM, foi exibido com acompanhamento ao piano, numa iniciativa da Cinemateca em colaboração com o Fórum Cidadania Lisboa, que, numa nota à Imprensa, lamenta a situação do cinema, encerrado desde os anos 90.

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