domingo, 9 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [V]

Poço do Borratém - Hospital Real de Todos-os-Santos - (Maqueta do século XX feita de acordo com descrições do hospital feitas em séculos anteriores à destruição do edifício, a maqueta encontra-se actualmente no hospital de S. José em Lisboa) in www.skyscrapercity.com
Poço do Borratém - (Século XVII) Desenho - (Hospital de Todos-os-Santos) - Museu da Cidade -in www.geocites.com/martinsbarata/ilustra/lx8sh.htm

Poço do Borratém - (Século XVIII) Desenho - (Hospital de Todos-os-Santos antes do fatídico Terramoto de 1755, vendo-se à esquerda o Convento de S. Domingos) in http://www.skyscrapercity.com/


Poço do Borratém, 36 e 38 - (195_) Foto de Armando Madureira (Poço do Borratém) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM»
Um lote, virado para a Rua do Amparo (actualmente Rua de João das Regras), foi comprado em 1835 por Bernardo José do Couto; aí existiam umas casas velhas, era o que restava da primitiva estalagem dos Camilos, assim chamada por estar nas dependências do Convento. As casas que eram constituídas por uma cavalariça e abrigo de carroças dos saloios, foram demolidas para se construir prédios de habitação.
O outro lote que ficava sobre o "Largo" do Borratém, foi vendido a António José da Silva Braga, cuja viúva o vendeu a Bernardino José de Carvalho, em Agosto de 1853. Era neste último lote que se incluía a Igreja dos Camilos.
Diz-nos ainda Júlio de Castilho que a transformação do sítio do Borratém foi total. «Havia no topo Sul da Rua do Arco do Marquês do Alegrete, um passadiço a que chamaram o "ARCO DOS CAMILOS", por ligar uma dependência do Convento com o prédio fronteiro, que fazia esquina para o Beco dos Surradores; passadiço esse que era simplesmente uma antiga comunicação do "quarto pequeno" ao Palácio dos Marqueses de Cascais. Esse passadiço era impropriamente chamado de "arco", pois não era mais que uma comunicação em linha recta. A rua aí era tão estreita, que ao alargar-se recuou a parede dezanove palmos (4m 18).
Em Novembro de 1835 convencionou a Câmara Municipal com a Administração do Hospital de S. José, a demolição do dito arco»(A).
-(A) -Synopse dos principais actos da CML em 1835, página 23.
«HOSPITAL REAL DE TODOS-OS-SANTOS»
El-Rei D. João II lançou a primeira pedra para a obra do Hospital na cerca do Mosteiro de S. Domingos em Lisboa em 15.05.1492, onde hoje se situa a Praça da Figueira e parte do Rossio.
A obra ficou a cargo do mestre arquitecto Diogo Boitaca sobre projecto de Mateus Fernandes seu sogro. Com o objectivo de juntar num só edifício os pequenos hospitais espalhados por Lisboa, cidade que na altura tinha cerca de 60 000 habitantes, foi inaugurado no ano de 1501.
O edifício sofreu três grandes incêndios. Um em 27.10.1601, outro em 10 de Agosto de 1750 e o terceiro no dia de todos os Santos (01.11.1755). Com o Terramoto e subsequente incêndio tão destrutivo, não resistiu.
Foi o primeiro grande hospital a ser construído em Portugal. O seu edifício estava elaborado segundo os princípios mais evoluídos na época, por isso, foi considerado um dos melhores hospitais da Europa.
A albergaria foi incluída no edifício do Hospital.
Posteriormente um devoto (assim se conta) instituiu por sua herdeira a Santa Casa da Misericórdia. De entre as alfaias e peças que lhe deixara, estava uma imagem da Senhora do Amparo. Então a irmandade edificou uma ermida para colocar a imagem.
A enfermaria ou hospital dos incuráveis passou, segundo parece, em 1583, para debaixo dos arcos, contígua à ermida.
Sabemos que «D. João II não pôde ver o seu Hospital construído porque morreu em 25.10.1495, quando só algumas paredes-mestras estavam concluídas. D. Manuel I foi o Rei que terminou esta obra, seguindo e cumprindo as disposições testamentárias deixadas por D. João. (...) Uma cópia autentica desse documento encontra-se na secção de Reservados da Biblioteca do Hospital de S. José. O Hospital tem a forma de cruz, com quatro braços iguais e, ao centro, estava situada a capela. (...) A fachada principal estava virada para o Rossio, tendo na sua entrada principal um lindo pórtico de estilo manuelino. As fachadas laterais davam para a Rua da Betesga e Amparo. A parte posterior para a Cerca do Convento de S. Domingos e terrenos pertencentes ao Conde de Monsanto, no "POÇO DO BORRATÉM" (1).
Existiam quatro claustros, um em cada braço da cruz, e em todos um poço, uma espaçosa horta, também com poço que ficava onde hoje se situa a PRAÇA DA FIGUEIRA.
No reinado de D.José I (1750) o Hospital Real de Todos-os-Santos após o segundo incêndio - este maior - ficou arruinado, recebendo grandes benefícios e mesmo uma renovação. Com a reconstrução e ampliação realizadas no Hospital, existiu a necessidade de comprar 14 propriedades circundantes do mesmo. No dia um de Novembro de 1755 com o terramoto tudo se perdeu.
-(1) - Santana, Francisco e Eduardo Sucena - Dicionário da História de Lisboa -Lisboa-1994 p. 449.
(CONTINUA) - Próximo «A PRAÇA DA FIGUEIRA»

2 comentários:

Anónimo disse...

Olà, sou um italiano que gosta de fado. Estalagem dos Camilos é a mesma de que fala o fado Sótão Da Amendoeira?

No velho café cantante
Que ficava mesmo ao lado
Da Estalagem dos Camilos


Obrigado
Ciao

Roberto Peresio
peresio@hotmail.com

APS disse...

Caro Roberto Peresio

Fico agradecido duplamente. Primeiro por visitar este Blog, segundo por escrever muito bem o português.
Quanto à sua questão, certamente que será esta "Estalagem dos Camilos" do velho «POÇO DO BORRATÉM», até porque este termo de "ESTALAGEM" já não se aplica actualmente, passou a usar-se «POUSADA»;«PENSÃO» ou «RESIDENCIAL» modernices!
Volte sempre.
Um abraço e "Ciao"
APS