quarta-feira, 10 de março de 2010

RUA DE XABREGAS [ VIII ]

Rua de Xabregas - (1755 ?) ( O Poeta de Xabregas - Frade Mariano Desequilibrado) (Biblioteca Nacional de Lisboa) in "ALFACINHAS" os lisboetas do passado e do presente - Plano e Ilustrações de ALBERTO SOUSA.
Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS (Convento de S. Francisco de Xabregas, na sua antiga Igreja está hoje instalado o «TEATRO IBÉRICO DE LISBOA» - ARQUIVO/APS

Rua de Xabregas - ( 194_?) Foto de Eduardo Portugal (Convento de São Francisco de Xabregas) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ VIII ]
«O FRADINHO DE XABREGAS»
Uma das mais curiosas e típicas imagens de «XABREGAS» em meados do século XVIII foi, sem dúvida, «O FRADINHO DE XABREGAS» também conhecido pelo «POETA DE XABREGAS» chamado de «FREI JOÃO DE NOSSA SENHORA». Um frade Mariano de quem há muito se perdeu a memória desta figura típica e popular da crédula e piedosa LISBOA setecentista.
Pregador inflamado tinha uma especialíssima devoção pela «VIRGEM MARIA», calcorreava as ruas de Lisboa (com grande recreação dos garotos que o seguiam e agrupavam), ostentando uma imagem de «VIRGEM MÃE DOS HOMENS», aspergindo santidade num mundo que, para o seu olhar piedoso e inocente, se atolara nas sendas mais ínvias do pecado.
Pregava sempre que podia e o deixavam e, por tudo e por nada, arremedava versos de "pé-quebrado".
Em 1755, pouco antes do Terramoto, havendo touradas no ROSSIO, «O FRADINHO DE XABREGAS» foi logo pregar à «IGREJA DA VITÓRIA» contra o pecado.
Estes são os versos que tal lhe mereceu:
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"No Rossio se faz festa,
Na Vitória pregação;
Pouca gente assiste nesta,
Mas naquela multidão.
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Três meses divertimento,
Bem se poderá escusar;
Tanto rir, tanta folgar,
Pode parar em tristeza.
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Na doutrina de Maria
Tenha LISBOA certeza
Que toda a sua alegria
Há-de parar em tristeza".
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Querendo o bom do frade pregar um sermão sobre «SANTA BÁRBARA», fez a divulgação do seguinte anúncio: «Esmola que se dá no dia de "SANTA BÁRBARA" no "REAL CONVENTO DE SANTA MARIA DE JESUS DE XABREGAS" (...)» e concluía: «venham cedo que das 10 horas até ao meio dia, pouco mais ou menos, se hão-se repartir as esmolas». O povo julgou que se tratava de esmolas em dinheiro, e como não há melhor engodo para atrair que prometer-lhes alguma coisa, a notícia espalhou-se velozmente e, em LISBOA, já não se falava de outra coisa. De tal modo que a "nova", já adulterada, chegou mesmo ao Paço do Rei. O monarca temeu que o povo, sentindo-se ludibriado, intentasse contra o frade e, ouvido o seu Conselho, fez destacar, por precaução, uma força militar para as imediações do Convento. Mas qual quê... o nosso «FREI JOÃO DE NOSSA SENHORA» esgrimiu-se com tal eloquência, naquele seu jeito de pregador realizado, transformando as esmolas da terra em dádivas do Céu, que o povo acabou por aplaudi-lo.
O mesmo autor dá-nos estas informações, de um retrato do bom frade, pela leitura da tela que publicados e que existe na Biblioteca Nacional de Lisboa. Descreve ele assim o frade patusco: " O seu retrato parece uma caricatura. Imagine-se um homem excessivamente obeso; a cabeça é como uma imensa mole sobre um pescoço curto e grosso; as faces, assopradas e rubicundas; os lábios grossos; sobre o lábio superior um buço virginal; a barriga colossal; e tudo isto embrulhado no hábito XABREGANO. E para lhe dar mais relevo, tem na mão direita uma espécie de relicário com a figura da virgem, entre flores; pendentes ao pescoço, uma verónica com outra imagem de virgem; e na mão esquerda um bordão singular, porque tem como uns ferros metidos no pau, em forma de ganchos. A figura tem um metro e cinquenta de altura, que julgamos ser tamanho natural" (1).
Com a nota humana deste retrato, se dá por encerrado este capitulo a um lugar esquecido, «Convento de S. Francisco de Xabregas antes Convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas» onde perpassou tanta história, situado outrora nos arrabaldes de Lisboa.
(1) - Ribeiro Guimarães (Sumário de Várias Histórias) - 1872
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DE XABREGAS [ IX ] - COZINHA ECONÓMICA Nº4 EM XABREGAS»



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