sábado, 9 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ III ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) - (Início da "Avenida D. Carlos I" na parte sul, em convergência com a "Av. 24 de Julho". Visível o magnífico edifício com projecto do arquitecto "Tomás Taveira") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos  I - (2012) - (Início sul da "Avenida D. Carlos I" visto da "Avenida 24 de Julho") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (1965) Foto de Armando Serôdio - (O "Largo Vitorino Damásio" espaço onde no ano de 2003 foi construído um parque de estacionamento subterrâneo) in AFML
Avenida D. Carlos I - (Século XVIII) - (Pormenor da gravura anónima da "Zona Ribeirinha de Lisboa". Podemos observar no cimo lado direito, o "Convento de S. Bento da Saúde", à esquerda  parte da "Igreja" e "Coro" do "Mosteiro da Esperança, o "Palácio do Duque de Aveiro", em frente com 2 andares e 6 janelas em cada piso, superiores à ponte-cais onde está atracada uma barca da "Aldeia Galega" (Montijo), a carregar provavelmente os lixos da cidade de Lisboa. A "Zona Ribeirinha" corresponde sensivelmente ao actual "LARGO VITORINO DAMÁSIO", onde se distingue claramente o cais de madeira que avança sobre o RIO.- LEGENDA - 1)IGREJA DE Nª Sª. DA ESPERANÇA; - 2)PALÁCIO DOS DUQUES DE AVEIRO; - 3)CONVENTO DE S.BENTO DA SAÚDE; - 4)O CAIS ( local sensivelmente hoje) LARGO VITORINO DAMÁSIO) - in DISPERSOS - VOLUME I

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ III ]

«O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 1 )»

Em 1854 surge uma proposta para o aterro da zona da «BOAVISTA» a «SANTOS», da autoria do engenheiro-arquitecto francês «PIERRE JOSEPH PEZERAT ou PEDRO JOSÉ PEZERAT (1800-1872)» ( 1 ),  que chegado a Portugal nos anos 40 de Oitocentos, entrou para os serviços da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA no ano de 1852. Dois anos mais tarde publicou um estudo de sua autoria. "Memória descritiva sobre o projecto de  Doca com portos-canais e de um novo bairro marítimo nas praias da BOAVISTA, de SANTOS e ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS compreendendo a rectificação do actual bairro da BOAVISTA" ( 2 ). Foi um importante arquitecto que não chegou a ver o seu projecto realizado. O objectivo do seu autor era arranjar os meios de fazer desaparecer aquela grande nódoa de lodo das praias da BOAVISTA e de SANTOS.
Na velha praia de SANTOS sobretudo na maré-cheia, terá sempre uma profundidade contida pois, segundo «JÚLIO CASTILHO» "Pelo lado sul, batia o TEJO aos pés da muralha do Jardim (do Palácio Marquês de Abrantes), e ainda em 1823 se dava esse facto. O TEJO foi fugindo, e já por volta de 1848 a praia de SANTOS começava a ser habitada" ( 3 ). A longínqua calma desta praia iria no entanto a ser irremediavelmente atingida, pois estava em vias de ser transformada, retalhada, toda ela expropriações, carroçadas de terriça e entulho não paravam de chegar. Já lá iam os bons tempos dos abarracamentos de lona branca para banhos na estação calmosa; as construções de barcos, iates e brigues a fervilhar ao longo do areal. O ATERRO vinha a caminhar para poente com toda a força, ia engolir o areal" ( 4 ).
Alguns dos actuais edifícios oitocentistas da então recente «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES», rebaptizada após o seu inicial nome de «CALÇADA DO CONDE DE VILA NOVA DE PORTIMÃO», sobretudo os mais perto do «BOQUEIRÃO do TEJO» da «BOAVISTA» e do «CAIS DO TOJO» posteriormente desaparecidos ou encurtados, com a construção da «AVENIDA D. CARLOS I», foram construídos sobre pré-existências, de baixa volumetria e uso não habitacional (ARMAZÉNS).
Persistia ainda a sul dessa calçada uma vasta área arborizada no seguimento do «PALÁCIO MARQUÊS DE ABRANTES», mas sem ligação directa à «PRAIA DE SANTOS» e ao RIO, dada a existência em meados de oitocentos, mais a sul, perto da praia, de uma banda de edifícios em contínuo. É bem visível tal situação na «CARTA TOPOGRÁFICA DA CIDADE DE LISBOA DE 1856/1858», coordenada por «FILIPE FOLQUE», assim como o papel claro da «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES» na ligação da periferia ribeirinha ao centro da cidade. Por aqui passou já, folgadamente, quando da morte em 1861 de «D. PEDRO V», o respectivo cortejo fúnebre, no seu trajecto desde o «PALÁCIO DAS NECESSIDADES» até ao "PANTEÃO" de S. VICENTE DE FORA.
Não podemos deixar de referir «JOSÉ VITORINO DAMÁSIO», o engenheiro, e director do «INSTITUTO INDUSTRIAL» que dirigiu as obras do ATERRO desde «S. PAULO» a  «SANTOS» depois de 1858.

- ( 1 ) - No Arquivo Municipal do Arco do Cego encontram-se algumas plantas que terão sobrevivido ao incêndio dos Paços do Concelho em 1863, uma das quais é do projecto da Praça de D. Luís a construir no ATERRO assinada por PÉZERAT: "Projecto da Praça a edificar na extremidade oriental do aterro da BOAVISTA proposto pelo Exmo. Snr. Vereador José Carlos Nunes, na sessão de 20 de 1862, pelo Engº da C.M. Pézerat". (23/v. pl. 10972).

- ( 2 ) -Pierre Joseph Pézerat - Memória descritiva sobre o projecto da Docka(...) LISBOA. Typografia Manoel Jesus Coelho, 1854.

- ( 3 ) - JÚLIO CASTILHO - "A RIBEIRA DE LISBOA" VOL. V (Lisboa) 1968, pág. 88

- ( 4 ) - JÚLIO CASTILHO - "A RIBEIRA DE LISBOA" VOL. V (Lisboa) 1968, pág. 117.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AV. D. CARLOS I [ IV ] - O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 2 )».
     

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