quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

RUA DO GRILO [ III ]

 Rua do Grilo - (2005) Foto de APS (Panorama do antigo "Convento dos Grilos" hoje "Recolhimento do Grilo" e "Igreja do Beato". Uma vista tirada da "Rua da Manutenção". No séc. XIX o rio chegava até a uma parte desta muralha, conforme se pode ver no mapa nº 16 de Filipe Folque) in   ARQUIVO/APS
 Rua do Grilo - (1999) - Foto de António Sacchetti (Vista da "Igreja do Beato" na "Rua do Grilo", foto tirada da parte de cima dos silos da "Manutenção Militar") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Grilo - (2013) (A "Rua do Grilo" no sentido para Sul, tendo ao seu lado direito o antigo "Convento dos Grilos" e no lado esquerdo a seguir aos contentores, o tal casebre com a "Caravela" seiscentista) in GOOGLE EARTH
 Rua do Grilo - (2013) (O antigo "Convento dos Grilos", hoje "Recolhimento do Grilo" e a "Igreja do Beato" in  GOOGLE EARTH
Rua do Grilo - (2013) - (A "Rua do Grilo" no sentido para Norte (Beato), no seu lado esquerdo a escadaria da "Igreja do Beato")  in  GOOGLE EARTH


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO GRILO [ III ]

«O CONVENTO DOS GRILOS ( 2 )»

A Igreja já devia estar concluída dois anos depois, visto que no dia 19.07.1668, "FERNÃO DE CASTILHO DE MENDONÇA" doou ao CONVENTO a sua "QUINTA DA TOURADA", na "CAPARICA", "com a obrigação de o sepultarem na capela-mor do dito Convento no Carneiro que está nela feito" ( 1 ).
Esta Igreja sofreu um grande incêndio em 23.10.1683, que em menos de duas horas, terá destruído a IGREJA e boa parte do CONVENTO.
Da IGREJA primitiva, diz-nos "FREI AGOSTINHO DE SANTA MARIA": o fogo eclodiu em ocasião quando estava a Igreja armada com grande perfeição, e tudo com muito asseio. Estando a Comunidade de Religiosos rezando (...) louvando ao Senhor Sacramento, que se encontrava num rico trono, adornado de muitas luzes, e tudo concertado com muita perfeição, e tanto cuidado puseram nisto, que melhor fora não porem tanto, porque formaram um trono, ou monte, que encheram por dentro de carqueja e cobriram de algodão, e muitos Serafins de cera (...). Caiu uma vela que pegou no trono, e logo levantou uma grande chama e como a Igreja  era pequena, e baixa (porque ainda ali viviam os religiosos no Convento velho) e era também forrada de pinho da "Flandres". Tudo velho e seco e assim pegou o fogo, que tomou tanta força que correndo pelo tecto, num instante se foi ateando, até chegar ao coro, de onde apenas se puderam retirar os livros, por onde os Religiosos rezavam, e os levaram consigo.
Os frades que estavam na IGREJA, eram dois irmãos leigos, nenhum teve ânimo para subir ao altar, (...) tirar a custódia, também deveria ser difícil porque estava atada.
E o fogo acabou por se propagar à rouparia e ao noviciado. E "FREI AGOSTINHO" afirma que aquele sinistro não fora coisa natural, pois naquele dia caiu a espada da mão de "D. AFONSO HENRIQUES", cuja imagem estava no frontispício do "MOSTEIRO DE ALCOBAÇA" e também se quebrou a estátua jacente de "D. DUARTE" (foi ele quem tomou Tanger aos Mouros), sobre o seu mausoléu, no Mosteiro da Batalha
E tudo isto aconteceu precisamente no dia em que os padres católicos eram expulsos de "TANGER", e incendiadas Igrejas e lugares sagrados, por abandono daquela nossa antiga praça pelos ingleses, a quem a mesma fora entregue quando do casamento da princesa "D. CATARINA DA BRAGANÇA" com o rei Inglês "CARLOS II".
"SANTUÁRIO MARIANO", de Frei Agostinho de Santa Maria, Vol. VII, pág. 11 e 12, Lisboa, 1721.
Não demorou muito a sua reconstrução, embora com inevitáveis alterações no conjunto edificado, ao longo do segundo quartel do século XVIII.
Pelo facto de não ter sofrido muito com o terramoto permitiu ao Convento preservar a sua estrutura, mantendo elementos como o corredor onde se abrem as antigas celas e a escadaria conventual, cujo tecto moldado em estuque foi executado no ano de 1746 e mais tarde retocado em 1870.
Quando da extinção das ORDENS RELIGIOSAS em 1834, segundo o inventário dos seus bens, no CONVENTO constava: dois dormitórios, primeiro e segundo piso, os quais olham para o Rio. Também um pequeno dormitório, e noviciado para a parte de terra. Há um refeitório, cozinha e dispensas.
Dentro da portaria existem quatro casas abobadadas. A sua cerca é de figura triangular, que consta de parreiras e um bocado de vinha, poucas árvores de caroço e alguns tabuleiros de horta; tem duas noras e um poço.
Confronta pela parte SUL com a "CALÇADA DO GRILO" e a POENTE com a "ESTRADA DE MARVILA". Pelo lado NORTE com a cerca das freiras "GRILAS". Pelo Nascente o CONVENTO, Igreja, Armazéns e provavelmente a "RUA DIREITA DO GRILO".
Embora existissem profundas transformações nesta zona Oriental da cidade que sofreu desde o século XIX, nela coabitam ainda algumas das mais preservadas unidades que nos permitem uma aproximação à imagem original de alguns conjuntos. Um deles é, sem dúvida, este "CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO MONTE OLIVETE", dos "AGOSTINHO DESCALÇOS", preservado pela manutenção de um uso próximo da sua função original.
Após a saída dos frades em (1834) foi o seu lugar ocupado pelas senhoras do recolhimento mantendo-se quase intacta a estrutura primitiva. Este facto, aliado à riqueza artística - quer arquitectónica, quer decorativa - fazem deste conjunto um caso à parte no panorama patrimonial lisboeta.  
Neste recolhimento vamos encontrar o seu átrio revestido de silhares de azulejos com motivos bíblicos, legendados em latim, podendo ler-se com ortografia actualizada a lápide que foi trazida do antigo "RECOLHIMENTO DA MOURARIA".
EL-REI / O SENHOR D. JOÃO, O 3º. FOI INSTITUIDOR DESTE COLÉGIO / NO ANO DE 1546. EL-REI / O AUGUSTÍSSIMO SENHOR D. JOSÉ O 1º. FOI O FUNDADOR / DO DITO COLÉGIO NO ANO DE 1753 SENDO SEU  /  SECRETÁRIO DE ESTADO E INTERCESSOR DA  /  OBRA O ILUSTRÍSSIMO E EMINENTÍSSIMO  DIOGO DE / MENDONÇA CORTE REAL  /  PROVEDOR O PADRE JOSÉ FERREIRA DE HORTA DEPUTADO  /  DA MESA DA CONSCIÊNCIA E ORDENS  /  E REITOR O PADRE JOÃO DE SÁ PEREIRA FREIRE PROFESSO /  NA ORDEM DE CRISTO.

( 1 ) - INDEX DAS NOTAS DE VÁRIOS TABELIÃES DE LISBOA, LISBOA,BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA, 1949 T. 4, fl. 37.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO GRILO [ IV ] O CONVENTO DOS GRILOS ( 3 )»

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