quarta-feira, 5 de março de 2014

RUA DO GRILO [ XVII ]

 Rua do Grilo - (2005) Foto de APS (Fachada primitiva do "Palácio dos Duques de Lafões" seguido do piso térreo sobre a "Rua do Grilo" a justa posição de um revestimento de cantaria, de acordo com o projecto de renovação pós-terramoto) (Abre em tamanho grande) in  ARQUIVO/APS
 Rua do Grilo ((1856-1858)-Filipe Folque ("Atlas da Carta Topográfica de Lisboa" sob a direcção de Filipe Folque em 1856-1858. Planta Nº 9 onde nos mostra a panorâmica da propriedade dos "Duques de Lafões" da "Rua Direita dos Ananázes" (hoje Rua de Marvila) até à "Rua direita do Grilo" e ainda na margem do Tejo tinham o "Cais dos Duques de Lafões")  in   ARQUIVO MUNICIPAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE  LISBOA
 Rua do Grilo - ( 19__) Foto de Alberto Carlos Lima (O 2º "DUQUE DE LAFÕES" "JOÃO CARLOS BRAGANÇA" (1719-1806), 1º Presidente da Academia Real das Ciências) in  AFML 
 Rua do Grilo - ( 2007 )  ("Palácio dos Duques de Lafões" fachada principal virada para a "Rua do Grilo") in IGESPAR
Rua do Grilo - (2007) (Uma parte da antiga propriedade dos "Duques de Lafões", podemos ver a "Rua do Grilo" que limita o palácio pelo Sul, e a Poente a "MANUTENÇÃO MILITAR") in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO GRILO [ XVII ]

«O PALÁCIO DOS DUQUES DE LAFÕES OU PALÁCIO DO GRILO ( 1 )»

Este "PALÁCIO DO GRILO" estava integrado numa vastíssima propriedade, que subia a encosta em declive acentuado na actual zona do BEATO.
A "QUINTA DO GRILO" pertencera a «D. ANTÓNIO MASCARENHAS», que o indiscreto genealogista "ALDO DE MORAIS" (PEDATURA LUSITANA), diz que teve a alcunha pouco simpática de o "SUJO". Foi ele que a vinculou e deu em dote à sua filha primogénita "D. MARIANA DE CASTRO", a qual casou em 1645 com "D. HENRIQUE DE SOUSA TAVARES" 1º Marquês de ARRONCHES e 3º CONDE de MIRANDA DO CORVO (1626-1706).
Mais tarde, a herdeira única da casa, bisneta desse casal "D. LUÍSA ANTÓNIA INÊS CASIMIRA DE SOUSA NASSAU E LIGNE", que foi 6ª Condessa de MIRANDA DO CORVO, casada com "D. MIGUEL DE BRAGANÇA", filho legitimado de "D. PEDRO II", que teve tratamento de Alteza, tendo também sido concedidas a esta senhora as honras de "DUQUESA", por carta de 02.04.1716 e, em 22.06.1718 foi-lhe atribuída a denominação de «DUQUESA DE LAFÕES» com tratamento de ALTEZA.
Do enlace principesco nasceram o "D. JOÃO CARLOS DE BRAGANÇA" (1719-1806) futuro 2º DUQUE DE LAFÕES,  e seu irmão primogénito "D. PEDRO HENRIQUE DE BRAGANÇA" (1718-1761), que "D. JOÃO V", seu tio, agraciou com o primeiro titulo de "DUQUE DE LAFÕES" no dia do seu baptizado.
Assim, os "DUQUES DE LAFÕES" herdaram esta quinta incluída no imenso património da poderosa «CASA DE ARRONCHES». Possivelmente já existia um palácio, que não sabemos a sua data, mas que naturalmente resultava de sucessivos acrescentos impostos pelo aumento de grandeza da família. O próprio "D. ANTÓNIO DE MASCARENHAS" já ali devia ter as suas casas onde se recolhia.
Provavelmente o PALÁCIO começou a ser construído, em princípios da segunda metade do século XVIII a partir das edificações já existentes. O objectivo era erguer uma habitação condigna dos seus moradores, descendentes directos de um monarca de Portugal. Todavia, este projecto grandioso nunca se concretizou inteiramente, já que as obras de adaptação foram feitas por fases, em diferentes épocas. Essa a impressão que se colhe quando se confrontam as estruturas existentes com as plantas do "PALÁCIO DOS DUQUES DE LAFÕES", reveladas pela "Drª. IRISALVA MOITA" na exposição comemorativa do 2º Centenário da morte de POMBAL em 1982, onde foram pela primeira vez expostas no "MUSEU DA CIDADE", e lá permanecem guardadas. Estas plantas (desenhos) do palácio tinham sido adquiridas por este MUSEU e provenientes da "CASA DE LAFÕES". No catálogo da exposição informava que estes desenhos estavam guardados numa pasta antiga, que tinha escrito na sua capa «DESENHOS DE EUGÉNIO DOS SANTOS».
Só através de observação atenta dessas plantas e dos alçados se pode compreender o todo no seu conjunto, bem como as indefinições e permanências que mais complicam a leitura do edifício. Assim, a qualidade e raridade desses desenhos no panorama setecentista português é de tal monta, que merecia que lhes fosse dedicada alguma atenção.
Existiu um dos poucos autores que se debruçou com algum detalhe sobre este PALÁCIO foi «NORBERTO DE ARAÚJO" (INVENTÁRIO DE LISBOA). Afirma, segundo a tradição mais comum, que o palácio foi iniciado em 1777, pelo "2º DUQUE DE LAFÕES", quando este regressou a LISBOA, depois do exílio que se prolongava desde 1757. Logo aqui se levantam alguns problemas, dado que sabemos que o DUQUE só regressou em 1779.
Acontece que o PALÁCIO de facto, há muito tinha sido concebido e iniciado. Mais exacto, tinha começado a ser refeito. Com efeito, entre as plantas hoje guardadas no MUSEU, uma é fundamental para se perceber a génese e a imagem actual desta construção.
Trata-se do levantamento das construções preexistentes no início das obras setecentistas.
Concebida numa estrutura em " L ", tendo o seu corpo maior disposto no sentido NORTE-SUL, vertical ao RIO, e o menor a ele virado bem como à via pública.
No seu interior rasgava-se um pátio, fechado por outras construções mais modestas. Esse pátio estava a nível superior ao da rua, e a ele se fazia acesso através de uma rampa que passava por baixo do corpo mais curto do " L ", que dava sobre o caminho público.
A parte principal deste palácio, o corpo maior do " L " é, ainda hoje, bem sensível no conjunto existente, formando a sua ala virada a Poente. Foi possivelmente o seu carácter antigo, que levou «JOSÉ-AUGUSTO FRANÇA» a referir-se, e bem, ao seiscentismo das fachadas em: (A ARTE EM PORTUGAL NO SÉCULO XIX, VOL. I pág. 169) "(...) o palácio de Lafões, do Beato - que o segundo Duque, parente da casa reinante e homem de cultura cientifica, construiu ao voltar do meio exílio a que o votara Pombal - data da mesma altura mas o seu programa é bem menor, indo apenas até a um gosto actualizado num "LUÍS XVI" pobre, numa das fachadas só acabadas uns cem anos mais tarde e que contrasta com o seiscentismo das outras".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO GRILO [ XVIII ] O PALÁCIO DOS DUQUES DE LAFÕES OU PALÁCIO DO GRILO (2)»

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