sábado, 19 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ V ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 ( 2 )»
 Vila Flamiano - ( 2005 ) Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" no seu lado direito visto de Norte para Sul na "RUA DO MEIO") in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (2005) Foto de APS - ( Um aspecto da "RUA DO MEIO" e em especial o Nº. 21-1º onde morei vinte anos) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (2011) - Foto de APS - (Um pormenor da "VILA FLAMIANO" na chamada "RUA DO MEIO")  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1939) Foto de Eduardo Portugal - (Conjunto de "Chafariz e Lavadouro público" no antigo "LARGO DE XABREGAS" onde até aos finais da década de cinquenta, os moradores da VILA FLAMIANO se  abasteciam de água e alguns lavavam a sua roupa)  in  AML
 Vila Flamiano - (anterior a 2009) -  (Parcialmente demolida a antiga "FÁBRICA ÂNCORA" no lado esquerdo,  aspecto degradante o prédio da antiga "PADARIA", com a entrada em ARCO para a VILA FLAMIANO) in  GOOGLE EARTH
Vila Flamiano - (2011) Foto de APS - (Aspecto depois da demolição da "PADARIA" e do ARCO que dava acesso à VILA FLAMIANO)  in   ARQUIVO/APS


(CONTINUAÇÃO) - VILA FLAMIANO [ V ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 (2)»

Quando o articulista do D.N. dá realce que: "O ar do sítio é bom e beneficia-o a vizinhança do TEJO, dando-lhe calor e animação a  proximidade do Caminho de Ferro". Devia pensar estar a ver passar o comboio num campo aberto em pleno Alentejo. Coisa que não acontecia nesta VILA. As locomotivas eram movidas a Vapor (cuja matéria prima era o carvão ou a madeira) deixavam um rasto de fumo, além das fagulhas que eram expelidas pela máquina ( que provocava alguns incêndios em fábricas vizinhas) e o enorme barulho que produziam, além de fazer abanar as casas. Nem tudo era bom, como nos fazia acreditar o jornalista. A luz eléctrica não existia, só em finais dos anos 30 meu pai comprou um ramal, puxando-o para o seu andar, depois de estar ali instalado, várias pessoas foram beneficiadas com esta maravilha. Água também não existia na VILA. Só em finais dos anos cinquenta, essa preciosidade aparece na VILA primeiro com um chafariz, depois canalizada para todos os moradores. Minha mãe tinha uma senhora a "TIA ROSA" a quem pedia para lhe levar uma bilha de água (isto antes da instalação do chafariz na vila), que ela religiosamente despejava na "Talha" ornamentada com uma bonita torneira de latão. Quando juvenil, acartei muita água do "LARGO DE XABREGAS" ou da "TRAVESSA DA AMOROSA", pontos onde existiam chafarizes. O tanque onde se lavava a roupa (quem não tinha coragem de ir para o "Lavadouro Municipal", junto ao chafariz no "LARGO DE XABREGAS"), estava junto da porta de entrada de suas casas, o estendal era colocado na "RUA DO MEIO" agarrado a cada extremidade da parede e levantado no meio com um pau e assim se secava a roupa.
O "LARGO" no interior da "VILA" tinha um espaço grande, de quando em vez éramos animados, inicialmente por "SALTIMBANCOS" depois, já com aspecto melhorado os "CIRCOS COBERTOS".  A intervalar apareciam nas épocas de verão, os "CARROCEIS" com os seus animais de madeira a andar à roda, subindo e descendo. Nessa altura sim, a VILA ficava animada pelas músicas emitidas  em som elevadíssimo, convidando as pessoas a aderir ao divertimento. Mas tudo acabou de um momento para o outro. A administração da "VILA" resolveu alugar o logradouro do "CONDOMÍNIO FECHADO" a uma oficina de reparações de automóveis, que lhe renderia mais que os sazonais "CARROCEIS", sendo o  espaço foi absorvido quase na sua totalidade.

Em finais dos anos 40 início de 50 os «SANTOS POPULARES» eram festejados pela juventude com fogueiras algumas fogosas rodas e lançamento de balões dentro da VILA. Recordo ainda que em noites muito quentes de verão, alguns vizinhos vinham repousar e apanhar o fresco da noite, junto das suas portas ou de um vizinho amigo, antes de se recolher.
Em bairros com estas características, normalmente os seus familiares estavam ou viviam quase sempre muito próximo. A minha avó materna já vivia nesta Vila há bastantes anos, antes de eu ter nascido, meus pais inicialmente viveram no "PÁTIO DO BLACK" onde minha irmã nasceu, acabando por vir morar para a VILA FLAMIANO no ano de 1936.
Existiam tios, tias, primos e primas a morar na "VILA DIAS" também ela uma vila operária com entrada pelo "BECO DOS TOUCINHEIROS".
Junto à "RUA GUALDIM PAIS" no pátio "JOSÉ INGLÊS" (já desactivado) viveu um tio. Na "CALÇADA DAS LAJES" (próximo do cemitério do Judeus) viviam os meus avós (paternos) e uma tia na "QUINTA DO COXO". Outro tio morava no "BAIRRO LOPES" e ainda outro tio (paterno) morava na "CALÇADA DOS BARBADINHOS". Uma prima em 3º grau morava no "LARGO MARQUÊS DE NISA" no prédio que demoliram para alargar a "RUA GUALDIM PAIS". Portanto, tudo muito próximo. O certo é que a vida se vai modificando, os prédios vão envelhecendo tal como as pessoas, hoje ninguém habita muito perto (salvo algumas excepções), a tradição já não se mantém, que numa cidade tão cosmopolita como LISBOA está tudo longe, por vezes até emigrado, a muitas horas de voo para nos podermos abraçar.

Deixei a "VILA FLAMIANO" quando casei em (1957), no entanto ainda a recordo com saudade, embora desde (1992) os meus laços mais chegados tivessem deixado definitivamente esse espaço e nada mais me ligar fisicamente.
Fico contente que a "VILA FLAMIANO" ainda resista estoicamente de pé, apesar de em seu redor já existirem algumas demolições. [ FINAL ].

BIBLIOGRAFIA

A FREGUESIA DO BEATO NA HISTÓRIA - Edição da Junta de Freguesia do BEATO - 1995 - LISBOA.
ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA -de Filipe Folque-1856-1858-CML-2000-LISBOA.
CAMINHO DO ORIENTE - Guia do Olhar-Dulce Fernandes - Livros Horizonte-1998-Lisboa.
CAMINHO DO ORIENTE -Guia do Património Industrial - Deolinda Folgado e Jorge Custódio - Livros Horizonte - 1999 - Lisboa.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 23 de Outubro de 1888.
PELAS FREGUESIAS DE LISBOA - Lisboa Oriental- Carlos Consiglieri - CML-1993-Lisboa.

(PRÓXIMO)«RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ I ] A RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA E SEU ENQUADRAMENTO»

Sem comentários: